segunda-feira, 21 de julho de 2008

Eu Galego me confesso

«O único bo que teñen as fronteiras son os pasos clandestinos. É tremendo o que pode facer unha liña imaxinaria trazada un día no leito por un rei chocho ou debuxada na mesa por poderosos como quen xoga un poker. (…) Pero, por sorte, esta fronteira irá esvaéndose no seu propio absurdo. As fronteiras de verdade son aquelas que manteñen aos pobres apartados do pastel.»

Manuel RIVAS – O lapis do carpinteiro, 6ªed. Vigo (Galiza), Xerais, 1998, p. 12-13


GOSTO: Dos Galegos/as. Da sua hospitalidade. Do seu falar, suave.

NÃO GOSTO: Do provincianismo, transformado (politicamente) em nacionalismo.


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Quero que o meu poema fale de barcos e de azul, fale
do mar e do corpo que o procura, fale de pássaros e
do céu em que habitam
.

“A matéria do poema”, Nuno Júdice (D. Quixote, Abril 2008)




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13.Xullo
Paçó – Xinzio de Limia – Ourense – Noia
(12H ---- 18H)

Após voltas, e algumas voltas atrás, não foi difícil chegar a NOIA, evitando as auto-estradas. O que me permite ver mais localidades. Com nomes curiosos: O Reino; Boimorto; Xinzio de Limia; Lalin; … E muitos, muitos nomes iguais aos de Portugal.

Em Noia, Hostal Valadares, na Rua Egas Moniz (Premio Nobel Português) [a placa de rua tem tudo isto escrito]. Impecavelmente limpo, barato, bem situado. Bom, para quem veio sem pré-reserva. O difícil aqui agora, a esta hora, é encontrar onde jantar.
Vaya hambre!



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14.Xullo

Casa de Cultura do Concello de Noia
Curso de Verán da Univ Santiago de Compostela
“El Radón y sus riesgos para la salud”, 14 – 18 Xulio

Muito interessante. Uma das intervenientes é médica (galega) na ARS Braga e doutorada na matéria.

Hoje NOIA, cantos recantos.

E, já que estou aqui ao lado, amanhã talvez FINISTERRA
… onde o mundo/terra acabava.
Ou assim diziam.

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NOIA – porto de mar de Santiago de Compostela. Minúscula vila de veraneio. Por tal, com uma frente de mar de cimento/edifícios, aguardando os turistas de Agosto. E os de Sábado/Domingo.


FINISTERRA – Fisterra, dizem os galegos. Na Costa da Morte. Onde acaba a terra e começa o “mar tenebrosus”.
RÁDON – inodoro, insípido, invisível. Responsável por mais de 50% da radiação (natural) de fundo. A OMS prometeu para 2008 o relatório do IRP – International Radon Project (iniciado em 2005), com resultados mundiais consensuais sob este “assassino invisível". Talvez aí o tema salte para a imprensa. Porque não tem sentido apontar o dedo a outras fontes de radiação/radioactividade, quando há este “fundo” natural. Chamam-lhe natural, mas os efeitos da radiação não distingue origem…


Bom, aqui o “paisano” do Cyber avisa-me que vai a Pechar! (com P!). Em castelhano seria Cerrar. Em Português, Fechar.
Dizem-no com a nossa pronúncia, suave. E não com a do agreste castelhano. Por isso se torna ainda mais engraçado.

Me voy, que vai a “pechar”!

E, dizem os galegos, Boas noites!

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15.Xullo
FISTERRA ou FINISTERRA

Noia --- Finisterra, i/v = 2 x 80 km (2 x 2h)

Valeu a pena. Em simultâneo a lua, à esquerda, e o sol, à direita.

Uma pequena multidão de “adoradores do pôr-do-sol”, partilhando botellas de vinho, pendurados nos recantos da falésia.
Não será o lugar mais seguro para tal. Mas enfim, se não virem o sol, por razões etílicas, sempre poderão ver o mar… (isto não é humor negro, é mera constatação do perigo observado).

Fisterra, dizem os galegos. Na Costa da Morte. Onde acaba a terra e começa o “mar tenebrosus”.




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16.Xullo

SANTIAGO DE COMPOSTELA

Tapas e pequena volta nos lugares de postal.

Está bem, mas não me seduz. Falta ir com mais tempo, ver a outra e real Santiago. Que isto de santos…
Com esta, é a 3ª vez que estou aqui, mas sempre de rápida passagem.


A CORUÑA

Que cidade!
Moderna, limpa, organizada, arejada.
Por aqui há esplendor e vitalidade.
Voltarei certamente.


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17.Xullo

Abre a FEIRA DO LIVRO DE NOIA

Ora, estou no meu “métier”. Livros. Livros.
Em castelhano, galego e português.
Saramago, Pessoa, Zink, Esteves Cardoso, Cesariny, Eça, Camões e… Margarida Mouta.

M. Mouta foi colega em Timor, na minha 1ª missão.
Escreveu um pequeno livro na Porto Editora, como bem falar em Português.
Fica bem aqui, na Galiza. Aliás, ficam bem todos aqui. Sobretudo hoje, que vem cá o papa do nacionalismo galego fazer um comício. O líder do BNG – Bloque Nacional Galego, Anxo Quintana.

A presença dos livros portugueses aqui é um efeito colateral do nacionalismo. Mas tenho dúvidas que tenham quota de mercado. Ficam bem, é certo.

E, na verdade, nem na mega-feira do livro de Madrid se encontram tantos, como na desta pequena vila de 15 mil habitantes. E digo-o a sério, porque já fui várias vezes (espero ir mais) à Feira do Livro de Madrid.


FOLCLORE NACIONALISTA

Abre a apresentação (ou representação, como se queira) a conselheira da Cultura do Concello de Noia (eleita pelo BNG), com quem não me gostaria de cruzar de dia, mas sobretudo à noite! Que me desculpem as mulheres, que o são de verdade. Com o devido respeito ao ser humano (cada um é como é), eu seu, eu sei, que o que vai por fora não vai por dentro. Mas temos olhos, é para ver/apreciar. E, no caso, exterior e interior creio que coincidem. Estes/estas nacionalistas têm uma pinta…

Segue-se e toma a palavra a deputada na capital em Santiago, a ideóloga. Que lembra as razões e fundações do país. País, aqui, é Galiza. Segundo ela/eles.
Aquece as hostes, antes da intervenção do líder, e convida para as festas do 25 de Xulio, dia nacional, em Santiago.

O líder do BNG, Anxo Quintana (que de anjo nem pintado) verte, num discurso pobre, 2 ou 3 ideias.

- Vão facer lexislaçon sobre os ventos. Estes, os ventos entenda-se, serão taxados ao passar na Galiza. Isto para sacar participação nos lucros da Iberdrola.

[O BNG participa em coligação com o PSdeG no governo regional. Após 30 anos de Fraga Iribarne, do PPdeG - Fraga, foi um Franquista dos 4 costados que transitou para a democracia. Dizia, sobre a sua possível demissão/retirada, os toureiros morrem na praça! Pelos vistos não foi preciso].
- Querem facer as estradas (ou disse carreteras?, que é em castelhano. Não me lembro), porque, segundo Anxo, Espanha tem 60.000 aldeas (ou disse pueblos?), dos quais 35.000 estão na Galiza. Portanto, querem para aqui essa competência.

- Vão retirar o solo às imobiliárias falidas, agora em crise, para fazer casas a custo controlado. Não explicou como expropria as empresas falidas. Também, político não precisa explicar. E expropriar “mortos/as” também não deve ser difícil…

Resume-se a isto, o discurso de uma hora. Em que, como um robô, girava enquanto falava, ora para a direita ora para a esquerda, no auditório do coliseu de Noia.

Terminou dizendo que os quer a todos dia 25 de Xulio em Santiago, para berraren (sic) quantos son.

Um nota ao marketing:
A estrela vermelha de 5 pontas comum aos trotskistas da quarta internacional diminuiu. É diminuta. Na mão de uma criança aparece agora uma grande estrela azul claro de céu ou cor azul de céu com nuvens.

A isto não é indiferente as palavras nos jornais regionais justamente de hoje do líder da bancada parlamentar do BNG em Santiago. Que dizia, tal qual, existir uma transferência de votos do PPdeG para o BNG.
Ora, os extremos tocam-se (ou trocam-se?). E as cores também. Pelo menos na política.

(Grafiti na Rúa Cega, em Noia. O Nacionalismo é um caminho cego...)
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18.Xullo
BON VIAXE!
Boa Viagem!

O curso, intensivo, termina com uma polémica entre um Físico catedrático da USC e o catedrático de Física Médica da U Cantábria, L. Quindós.
O primeiro entende que se saírem normas para a edificação relativas ao gás Rádão, metade das casas da Galiza fecham.
O segundo, Quindós, que leva 25 anos trabalhando o tema, considera a afirmação “uma loucura”. Porque, sublinha e realça, o que conta não é a concentração (Bq/m3) mas a dose (Sievert = Concentração x Tempo de exposição).
Luís Quindós e Xoán Barros (director deste curso) são as vozes autorizadas de Espanha no IRP – International Radon Project da OMS. No qual Portugal não está presente!...

Na tentativa de encontrar um atalho para a auto-via, acabo por me meter pela Galiza profunda. E deixo-me ir. Profundamente.
Este é outro mundo. Outras estradas. Provavelmente outras gentes. Porque, como dizia Miguel Torga, as paisagens moldam as gentes.

Há muitas aldeas (em galego) que têm nome igual em Portugal, sem tirar nem pôr.

Logo neste primeiro atalho na tentativa de ir de NOIA a PADRÓN (a terra dos pimientos com o mesmo nome, como me lembrou uma colega de curso, muy simpática e autóctone, num dos intervalos do café da manhã. -- Não, não tirem o Freud da gaveta. Não fui por este atalho por ela… -- ), dizia, neste atalho havia uma aldeia com um nome curiosíssimo, EXTRAMUNDI. Assim, tal qual.
Chegado a Padrón, devagarinho, tinha agora a a autovia de guardia (AG-9) (em castelhano, autovia de peaje, AP-9), para chegar a Pontevedra.
Mas, a nacional é tão direita quanto a outra. Portanto, em frente, pela nacional, direcção OURENSE (em castelhano Orense. Nas matrículas dos carros há, havia, esta dupla representação: OU-12345-… OR-6789-…).
Em PONTEVEDRA, tentando adivinhar o que estaria numa placa de rotunda semi-destruída, virei à esquerda. Lá não estava Ourense, mas supus, mal!
E a Autovia das Rias Baixas (em galego. Em castelhano, Rias Bajas), continuava a fugir-me. Lá estava eu de novo numa estrada nacional, como as nossas antigas. Com os seus locais de paragem com árvores, com o fontanário, …
E até Ourense, 60 e tantos km. Pois vamos, que se há-de fazer. Que se tem de fazer!

Muitos nomes de aldeias, mesmo muitos. Um deles. TRASDOMONTE.
Dizia o líder do BNG, no comício de ontem, que a Galiza (em galego. Em castelhano Galicia) tem 35 mil das 60 mil aldeias de Espanha. 35 mil!

Dando curvas e fazendo contas, penso. Um ano tem 365 dias. Para as visitar todas haveria que fazer 100 por dia. 100 por dia!
De facto, gerir este território humano exige outra especificidade. Mas não certamente auto-estradas até cada uma delas, como se subentendia nas palavras do comício de ontem do BNG.
Se aqui não faltam é novas vias em construção, por onde quer que se passe. Vê-se troços de obras de auto-vias e do AVE (o comboio de alta velocidade).

A sinalética em Orense é pobre. Não é fácil sair da Galiza. Bom, também na ida já não tinha sido fácil entrar. Se entras não sais, se sais não entras. Ou vice-versa!

Cabe aqui a curiosidade de que só no dia em que fui a Finisterra (fim da terra/ fim da Galiza) me entrou uma mensagem de boas vindas a Espanha no meu telemóvel, e já levava 3 dias na dita.
O nacionalismo tem detalhes a que não escapam as operadoras telefónicas.
Aqui, onde vivo, frente a Castilla-y-Léon, mal me salta a rede espanhola, zás! Uma mensagem de boas vindas. Está o senhor em território espanhol, e ainda nem sequer lá pus os pés.

Acompanha-me na viaxe a RÁDIO GALEGA. Falam de festas e comidas. Alguns intervenientes mordem a língua para corrigir de Pulpo (em castelhano) para Polvo (em galego). Ao final acabam por fazer uma salada!...

Noutro apontamento intervém a directora/funcionária de um colégio católico de Santiago. Para falar no número de Nenos e Nenas (em galego. Em castelhano, Niños e Niñas) no seu colégio.
Para além de Galegos há do Estado Espanhol (assim o disse), da Alemanha, da Hungria,…
Do Estado Espanhol?!... Nem os da igreja, mais colados à direita, escapam aos tiques e dizeres dos nacionalistas. Que aqui se pintam de esquerdas.

Portugal, Açores, Lisboa, e Música Portuguesa enchem a Rádio Galega (por falta de produção cultural própria? Ou por empatia?).
Mas, aos portugueses este fenómeno passa-lhe completamente ao lado. Excepto uma minoria, que ganhará com isso. A presença das gasolineiras da GALP é constante. Na Feira do Livro de Noia o número de livros portugueses é muito significativo… ainda que eu desconfie de que ninguém os compre. Estão porque ficam bem…


«O único bo que teñen as fronteiras son os pasos clandestinos. É tremendo o que pode facer unha liña imaxinaria trazada un día no leito por un rei chocho ou debuxada na mesa por poderosos como quen xoga un poker. (…) Pero, por sorte, esta fronteira irá esvaéndose no seu propio absurdo. As fronteiras de verdade son aquelas que manteñen aos pobres apartados do pastel.»

Manuel RIVAS – O lapis do carpinteiro, 6ªed. Vigo (Galiza), Xerais, 1998, p. 12-13


GOSTO: Dos Galegos/as. Da sua hospitalidade. Do seu falar, suave.

NÃO GOSTO: Do provincianismo, transformado (politicamente) em nacionalismo.

1 comentário:

Seve disse...

Son de Noia, vilego (provinciano), nacionalista de esquerdas, pero non participei da Feira do Livro, nen tampouco gosto desos actos políticos, nen estou dacordo co bipartito de marras.
Caseque foçamos os fuxiños con verbas e nos olhamos sen darnos conta quenes somos. Gosto das cousas boas q escreves sobre o povo de Noia e das cousas mas, é o teu ponto de vista, por eso é bonito e importante para o mundo.
Antes da Beltranexa, xa existía Galicia, Portugal foi posterior. Hai unha sinerxia no nome dos sitios pois Portugal está alimentada no seu orixe por este idiosincrático recuncho do mundo, Galicia, Galiza, ....